Víbora-cornuda
Vipera latastei
É um animal difícil de encontrar, a não ser por mero acaso, pelo que, quando isso acontece, o registo visual é muito próximo, o que torna a situação pouco agradável. Não pelo seu tamanho, que é de cerca de 80 cm, mas sobretudo por ser venenosa.
A sua cabeça, como acontece com as restantes víboras, tem uma forma triangular característica. A sua cor é cinzento azulado, possuindo no dorso uma mancha mais escura, em zig-zag, ao longo de todo o corpo.
Classificação
VULNERÁVEL . VU
Espécie com área de ocupação inferior a 2.000 km2. Apresenta fragmentação elevada e um declínio continuado da sua extensão de ocorrência, área de ocupação, da qualidade dos habitats, do número de localizações e do número de indivíduos maduros.
Distribuição
Em Portugal, distribui-se por todo o território, em núcleos populacionais fragmentados, desde o nível do mar até aos 1.500 m, nas Serras da Estrela e do Gerês. A grande maioria das observações desta víbora provém das zonas montanhosas a norte do rio Tejo (serras do Gerês, Alvão, Montesinho e Estrela). A sul do rio Tejo e nas áreas de maior pressão humana, ocorre em populações isoladas de pequenas dimensões (S. Mamede, Contenda e Aljezur).
População
A víbora-cornuda é considerada, desde há 20 anos, como uma espécie com efectivos populacionais escassos em toda a sua área de distribuição na Península Ibérica. Vários autores detectaram um declínio nos efectivos populacionais ibéricos da espécie em áreas onde era frequente, particularmente nas zonas com elevada utilização humana do litoral atlântico e mediterrânico.
Habitat
Esta espécie encontra-se em zonas rochosas de montanha, preferindo as encostas declivosas com matos densos. Também ocorre em áreas florestais com cobertura arbustiva. Nas zonas mais baixas e litorais ocorre em matagais, pinhais arenosos e sistemas dunares.
Factores de Ameaça
O principal factor de ameaça é a perda, fragmentação e degradação do habitat por acção antropogénica devido fundamentalmente a:
- incêndios florestais;
- silvicultura intensiva;
- aproveitamento dos solos para fins agrícolas;
- desenvolvimento urbano e implantação de infra-estruturas viárias.
Constituem também factores de ameaça, com efeitos consideráveis, a mortalidade por atropelamento nas estradas e a perseguição directa em virtude de aversão.
Um outro factor de ameaça é a captura de exemplares para comércio ilegal e coleccionismo. De acordo com vários inquéritos a habitantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês, esta espécie é frequentemente capturada e as suas cabeças comercializadas sob a forma de amuletos e como medicamentos. Esta crença existe pelo menos desde a Idade Média e os relatos mais antigos de comércio datam da década de 30 do século passado. Nos anos 70 e 80 vendiam-se em média cerca de 500 víboras por ano no Gerês. Actualmente, com o aumento da fiscalização, o comércio diminuiu mas não desapareceu totalmente, sendo hoje feito de forma clandestina, estimando-se que sejam comercializadas entre 50 a 100 víboras por ano, apenas nas Caldas do Gerês. O comércio de cabeças de víbora não está, no entanto, limitado à serra do Gerês, ocorrendo também em algumas serras do Norte e Centro de Portugal (Marão, Montemuro, Estrela, Caramulo, Aire e Candeeiros). Algumas características biológicas, tais como áreas vitais de pequenas dimensões, elevada especialização ecológica na dieta e na utilização dos habitats, reduzida frequência de reprodução, taxa de crescimento reduzida e maturação sexual tardia, contribuem para a sua vulnerabilidade a factores de ameaça.
Medidas de Conservação
As medidas de conservação devem incidir na manutenção dos seus habitats, sendo considerado particularmente importante:
- empreender acções mais eficazes na prevenção dos incêndios florestais;
- conservar as sebes e muros de pedra que delimitam os lameiros e terrenos agrícolas e conservar as áreas florestais autóctones, incentivando o corte equilibrado de madeiras nas florestas, dado esta prática levar à criação de locais propícios para a termorregulação destes animais e constituir ainda uma medida de prevenção dos incêndios florestais. São ainda necessárias iniciativas de educação a nível escolar, bem como campanhas de sensibilização do público, no sentido de desmistificar as superstições que a envolvem. São necessárias também acções de investigação dirigidas para a determinação mais rigorosa da área de distribuição e de efectivos populacionais, principalmente nas regiões litorais e a sul do rio Tejo.
The first picture of Vipera latastei is from Frank Deschandol ( www.deschandol-sabine.com )
ResponderEliminarGracias