Animais Autóctones

Animais Autóctones

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Espécie Animal Autóctone da Semana

A águia-sapeira (Circus aeruginosus) pertence à ordem Accipitriformes e à família Accipitridae.
É uma ave de rapina de tamanho médio com cabeça e corpo esguios, asas e cauda longas, assim como as patas, o que constitui uma característica deste género. Também característico é o modo de voo com as asas levantadas formando um V distinto. Tem um comprimento de 48 a 56cm, envergadura de 110 a 130cm e um peso de 405 a 667grs (macho) e 540 a 800grs (fêmea). O macho é castanho-avermelhado com cabeça e margens anteriores das asas castanho claro, quase amarelas. Em voo é notável a cauda cinzenta e uma grande zona cinzenta na parte interior das asas e a ponta é preta. As fêmeas são todas castanhas escuras, apresentando apenas a coroa e o bordo anterior das asas cremes. Os juvenis apresentam uma coloração semelhante às fêmeas, por vezes sem os ombros cremes. Vocalizações são pouco produzidas fora da época reprodutiva, no entanro possui uma grande variedade de vocalizações de ameaça e alarme quando perturbado. O macho emite uma vocalização curta e vibrante durante a parada nupcial e existem ainda uma série de vocalizações entre os membros do par ou entre estes e as crias que variam conforme o contexto (por exemplo, macho anuncia à fêmea que traz alimento). A longevidade máxima conhecida é de 16 anos e 6 meses de idade.
Em Portugal, encontra-se normalmente associada a sistemas estuarinos e outras zonas húmidas costeiras, ocorrendo, ainda, irregularmente em algumas albufeiras do interior Sul do país. Utiliza muito frequentemente caniçais e sapais para nidificar ocorrendo, também, em campos agrícolas para caçar. Distribui-se maioritariamente em quatro zonas do país: Ria de Aveiro, Baixo Mondego, estuário do Tejo e estuário do Sado. Caçam voando baixo sobre o terreno plano e aberto, procurando as suas presas com as asas abertas em forma de V achatado. Alimentam-se particularmente de pequenos mamíferos tais como ratos-de-água e aves, mas também come insectos, répteis, anfíbios, peixes e cadáveres de animais.
O início da época de acasalamento varia de meados de Março a princípios de Maio. Nidifica no solo e o ninho é feito de paus, caniços e ervas. É construído normalmente numa base de caniços mas por vezes também em terrenos aráveis. Põem geralmente três a oito ovos por ninhada. Os ovos são brancos com uma ligeira coloração azulada ou esverdeada. São incubados durante 31-38 dias e as crias voam ao fim de 35-40 dias. A maturidade sexual é atingida aos 2 ou 3 anos de idade. Os machos acasalam frequentemente com duas ou por vezes três fêmeas. Os casais ficam unidos normalmente por uma só estação mas por vezes permanecem juntos durante vários anos.
Actualmente esta ave está classificada como vulnerável. A população nacional nidificante está compreendida entre 50-250 indivíduos maturos.
Os factores que a ameaçam são:
A  perda de habitat. Durante o final do século XIX e o século XX, um grande número de zonas húmidas foram drenadas e convertidas em campos de cultivo e, mais recentemente, para construção de infra-estruturas de turismo e áreas urbanas, facto que se verifica ainda nos dias de hoje. Actualmente, esta ameaça está presente em algumas zonas sem estatuto de protecção. O corte desregrado do caniço e outra vegetação palustre podem contribuir para a redução do habitat de nidificação disponível. A manutenção e correcta gestão desta vegetação é essencial.
As alterações do habitat.  A perda ou alteração da composição da vegetação palustre emergente devido a sobre-exploração ou gestão desregrada dos recursos hídricos e da vegetação e a poluição agrícola, urbana e industrial, são fortes causadores de degradação do habitat desta espécie. Por outro lado, a sucessão ecológica é também responsável pela degradação da qualidade do habitat, ou mesmo o desaparecimento de algumas zonas húmidas, sendo por isso necessárias intervenções no sentido de inverter este processo. O desenvolvimento turístico e a perturbação em volta das zonas húmidas também constituem factores de degradação do habitat. A escassa informação existente sobre os parâmetros reprodutores da espécie em Portugal, embora meramente indicativa, aponta para uma produtividade muito baixa, quando comparada com outros países da Europa.  As causas podem estar relacionadas com fraca disponibilidade alimentar, que por sua vez pode dever-se a uma degradação da qualidade do habitat.
O abate ilegal é provavelmente uma causa importante de mortalidade para esta espécie.  A  Águia-sapeira é vulnerável ao abate com armas de fogo, principalmente nas áreas onde procura alimento           ( arrozais, campos e cultivo), devido ao seu modo de caça (voo lento e a baixa altitude) e à forte pressão cinegética a que muitas dessas áreas estão sujeitas.
A perturbação provocada pelas actividades humanas pode ter um impacto negativo no sucesso reprodutivo ou na sobrevivência dos indivíduos, ou mesmo na sua permanência em áreas de pequenas dimensões. A perturbação humana pode ser o factor determinante para o insucesso reprodutor. Durante o Inverno, a perturbação causada pela actividade cinegética, por exemplo, durante a caça aos anatídeos, pode ser determinante para a não utilização de um determinado dormitório e obrigar as aves a procurar locais menos favoráveis.
O saturnismo. Embora não estejam documentados casos comprovados de saturnismo em Portugal, foram detectados em Espanha vários casos de indivíduos envenenados com chumbo, provavelmente por ingestão de presas contaminadas. O impacto real desta ameaça é desconhecido no nosso país, mas é provável que seja significativo, uma vez que tende a capturar animais que se encontram feridos ou doentes, nomeadamente aves aquáticas afectadas por saturnismo. Em Portugal, apesar da imensa literatura publicada acerca dos efeitos nefastos deste fenómeno, de recomendações de especialistas nacionais que investigaram o problema em áreas do nosso país e de um número considerável de países já terem proibido a sua utilização, ainda se continua a caçar com chumbo nas zonas húmidas. Apesar de em muitas áreas protegidas a actividade cinegética estar interdita, é provável que o risco de contaminação ainda seja elevado uma vez que a permanência do chumbo nos sedimentos pode ser extremamente longa.
A poluição e aumento da utilização de agro-químicos. Embora se desconheçam os efeitos directos da poluição, quer seja agrícola, industrial ou doméstica, há indícios bastante fiáveis de que tenha consequências negativas na espécie e no seu habitat em vários locais do país. Em diversas zonas húmidas nacionais foram observados fenómenos massivos de intoxicações agudas de ralídeos e anatídeos causadas directa ou indirectamente pela poluição, animais estes que são posteriormente consumidos pelas Águias-sapeiras, pelo que é muito provável esta espécie seja também afectada, quer a nível da sobrevivência de indivíduos quer da redução da capacidade reprodutiva. Supõe-se também que a poluição e o aumento do uso de agro-químicos contribua para a diminuição das populações presa.
MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO 
Assegurar protecção legal aos sítios com habitat favorável para a Águia-sapeira.
Interditar o uso do chumbo na actividade cinegética em zonas húmidas.
Promover a manutenção e incremento do habitat apropriado para a espécie, nomeadamente os maciços de plantas palustres. Recuperar as manchas de caniçal mais degradadas ou desaparecidas por forma a incrementar o número e a área de locais propícios à nidificação da Águia-sapeira. Condicionar as operações de drenagem em importantes zonas de nidificação da espécie. Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais facilmente degradáveis, cujo impacto ambiental não seja tão nefasto.
Promover e valorizar a exploração sustentada e os usos tradicionais da vegetação palustre e a exploração económica do património natural associado à espécie. Reduzir a perturbação por actividades humanas nos locais mais sensíveis. Regulamentar a actividade turística dentro das ZPE's.
Promover restrições e fiscalização à actividade cinegética nos locais mais importantes para a espécie. Promover estudos sobre aspectos da biologia da Águia-sapeira, nomeadamente biologia reprodutiva, movimentos, requisitos de habitat e mecanismos para a sua gestão e disponibilidade trófica. Implementar um programa de censo e monitorização da população nacional. Investigar o efeito do saturnismo, da poluição e dos agro-químicos sobre a espécie e restantes elementos da sua cadeia alimentar. Desenvolver e implementar programas educacionais de modo a aumentar o conhecimento do público sobre a espécie e a necessidade de se preservar o seu habitat.

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